segunda-feira, 28 de março de 2016

PALAVRAS DE UMA AMIGA / 05 TRISTE FIM.

PALAVRAS DE UMA AMIGA / 05 TRISTE FIM.
Foi quando minha irmã, já casada, me convidou para ir morar numa pacata cidade do interior, com seus até então 20.000 habitantes. É verdade que os sons rotineiros de sapos e grilos de lá me eram entediantes, porém me sentia mais segura para andar pelas ruas, o que, por si só, já fazia tudo valer a pena.

Apesar das perdas doloridas, tais como o afastamento de amizades, escola e parentes, aceitei.

Lá completei meus 16 anos. Quantos sonhos numa mente juvenil! Queria conhecer um rapaz especial, do tipo príncipe encantado, namorar, poder viver em paz. Durante o dia, trabalhava no banco como auxiliar de aplicações, estudando à noite, numa escola não tão boa como a que estivera matriculada, anos antes. Sem problemas!

Foi quando conheci aquele que seria meu primeiro marido. Moço jovem, com seus vinte e dois anos, irmão de uma amiga. Logo percebi que ele tinha um temperamento forte, mas ainda assim me trazia flores, bombons e muitas juras de amor. Que mais eu poderia querer? Hoje sei que muito, muito mais, claro! Porém, lá ia eu enfiando a perna numa das arapucas abertas do caminho.

Comemoramos o terceiro mês de namoro e uma notícia bombástica chegou aos meus ouvidos: meus pais iriam se mudar para o Acre. E queriam que eu fosse junto com eles, lógico. Implorei, me deixassem morando com a minha irmã, porém, meu pai, homem tradicional, nascido na década de 20, com sua vida orientada pelo lema: “filha minha só sai da tutela do pai se for para a tutela do marido” – disse que eu só ficaria, se estivesse casada.

Não pensei duas vezes. Preparei o possível e me casei, em dois meses, apenas.

Realmente, saí da tutela de um homem, para a tutela de outro, só que bem pior.

Nos primeiros meses, engravidei da minha primeira filha. Depois disso, uma nova sentença masculina ecoava em mês ouvidos: “Mulher minha não trabalha nem estuda…Fica apenas em casa, cuidando das coisas e dos filhos!”

Num primeiro momento, não tive forças para mudar isso. Nem sabia que seria possível, aliás.

Na primeira grande discussão, um susto: sacou uma arma, apontou na minha direção, dizendo que se eu fosse embora, me mataria.

Foi quando, ainda grávida, apanhei dele pela primeira vez. Foram vários tapas, porque ousei dizer que ele não poderia falar mal dos meus pais. Na segunda vez, porque não quis manter relações sexuais no final da gravidez. Por último, com minha filha ainda pequena, pois o acordei no meio da noite. Estava roncando alto demais e minha filha tinha o sono muito leve.

Chorei “para dentro”, jurando ser aquela a última vez.

Fiquei com diversas marcas roxas, que me deram força para alterar os rumos.

Dois anos depois, com minha filha na escola em meio período, consegui convencê-lo de que iria trabalhar com a irmã dele, como sacoleira. Consegui algum dinheiro emprestado, peguei meu carro e segui para São Paulo. Comprei duas sacolas cheias de roupas e voltei, indo na casa das clientes, vendendo a mercadoria. Dali a dois anos já conseguia me sustentar. Saí de casa, e nunca mais voltei para lá. Deixei tudo para trás: casa, herança, objetos, tudo! Mas levei minha dignidade e minha filha. Era só do que precisava.

Hoje, olhando para trás, percebo a ação nem sempre positiva dos homens em minha vida, empurrando-me para situações incontroláveis, quando vistas sob a ótica de uma menina.

Já amadurecida pelos anos e experiências, hoje sei que só me tornei quem sou por causa do que vivi. Entretanto, também sei que não precisaria ser assim… Existem mil caminhos para a maturidade, mais leves e amorosos. Se consegui me livrar das arapucas armadas, foi porque existe e já existia em mim aquilo que hoje a Psicologia chama de resiliência. Muitas vezes vi minha mãe dando a volta por cima, com força, com garra impressionante! Isso deve ter me inspirado, para além do que ela possa imaginar.

Se existe algo ainda a comentar é que sim – o mundo continua machista. As mulheres ainda enfrentam diversos desafios apenas por serem mulheres. Ganham menos, trabalham mais, enfrentam preconceitos e perseguições. A mídia ainda produz psicopatas nas ruas e nos bares – Homens que veem as mulheres como simples objetos, pedaços de carne animada apenas para o sexo. Os homens ainda controlam as coisas por aí. São reconhecidos com maior rapidez no meio acadêmico e fora dele. Têm a palavra, o poder social.

E nós, mulheres, o que temos?

Muito mais que eles! Pena que ainda não nos demos conta disto!

Temos os filhos que formarão o mundo de amanhã. Temos o poder de ensiná-los que justiça se faz em todos os lugares, com todos os seres. Podemos ajudá-los a entender que a mulher tem direitos, muitos direitos, assim como eles, e que precisam ser respeitadas, cuidadas e honradas, como eles desejam ser.”

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